O título deste artigo está presente em pôsteres em várias línguas em banheiros escolares de Berlim, na Alemanha. Estes banheiros têm orientação anarquista e inclusiva, são unissex, ou “para todos os gêneros do mundo”.
As escolas são registradas como escolas de “integração”, um lugar que, na teoria, ensina imigrantes a se adaptarem à vida na Alemanha. No país todas as crianças são ensinadas desde cedo a fazerem xixi sentadas, sim, inclusive as que têm pênis, por lá essa conversa é algo normal.
Além disso, muitos banheiros públicos da Alemanha e do Reino Unido apresentam avisos proibitivos para a prática de urinar em pé, assim como proprietários de imóveis também colocam o uso correto do sanitário como cláusula no contrato de locação.
Entretanto, na maioria das culturas do Ocidente, as crianças aprendem que meninos fazem xixi em pé e as meninas sentadas. Essa conduta arbitrária, está sendo questionada pelas autoridades de vários países e também por organizações de saúde. Alguns usam motivos de saúde e de higiene; outros, por direitos iguais.
Placa proibitiva na Alemanha |
Fazer xixi em pé pode ser bastante conveniente para usar banheiros públicos, porém, em casa, sentar-se para fazer essa necessidade tem suas vantagens. Uma das principais é evitar que a urina espirre ao redor da privada.
Além disso, a posição também permite que a musculatura pélvica fique mais relaxada. Especialistas acreditam que a posição do corpo pode influenciar o volume do fluxo de urina, o que eles chamam de parâmetros urodinâmicos.
Normalmente, a bexiga armazena urina suficiente para nos permitir realizar atividades diárias e dormir durante a noite. Aqui, a diferença tende a ser mais sentida por quem tem alguma condição que incomode o ato de urinar, como a chamada hiperplasia prostática, que é o nome dado a um crescimento benigno da próstata.
Mas para além disso há um outro fator importante que deve ser levado em consideração: respeito! Deixar o sanitário em condições adequadas para a próxima pessoa que for utilizar é uma prática de respeito e facilita também o acesso.
Fazer xixi sentado engloba aspectos de saúde, higiene, respeito, igualdade e inlcusão |
A capacidade máxima da bexiga fica entre 300 e 600 mililitros (ml). Geralmente, urinamos quando a bexiga está cheia em até dois terços desse espaço. Para esvaziá-la completamente, você precisa ter um sistema de controle nervoso intacto, que alerta quando você precisa urinar, além de segurar a urina até você chegar a um local propício.
Quando o corpo está em uma posição confortável, o esfíncter da bexiga e os músculos do assoalho pélvico ficam relaxados. Simultaneamente, a bexiga se contrai e esvazia. Não é considerado saudável forçar a urina.
No entanto, os homens podem sofrer dificuldades temporárias ou permanentes ao urinar. O semanário científico Plos One publicou um estudo indicando que homens com próstata inflamada, problema que obstrui a passagem da urina, poderiam ter melhoras caso passassem a usar o vaso sanitário sentados.
Várias instituições, como o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, recomendam que os homens procurem um lugar tranquilo onde possam se sentar para urinar. Também existem teorias de que se sentar para urinar pode prevenir complicações como o câncer de próstata, além de proporcionar aos homens uma vida sexual mais ativa.
Manter os músculos do assoalho pélvico relaxados facilitada o trabalho da bexiga |
A QS Supplies, uma das principais empresas de equipamentos para banheiros do Reino Unido, decidiu fazer uma profunda pesquisa acerca dos hábitos dos homens na hora de urinar. O trabalho rendeu incríveis descobertas sobre como urinar em pé é completamente anti-higiênico.
Um vídeo impressionante mostra imagens feitas com luz ultravioleta em um banheiro usado por homens. Elas revelam que milhares de respingos “invisíveis’ voam a quase um metro de distância quando eles urinam em pé e podem atingir a pia, a escova de dentes e o papel higiênico, que ficam a essa distância.
O vídeo mostra dezenas de homens fazendo xixi em pé. Com uma taxa de fluxo média de 20ml por 10 segundos, todos sujaram o vaso e o entorno dele, bem mais do que se imaginava.
Durante as gravações feitas no mesmo banheiro, a equipe usou luz ultravioleta para descobrir até onde a urina realmente espirra e provou que as gotas invisíveis voam pra todo lado. Elas espirraram a até 36 polegadas – 0,91 centímetros – do vaso sanitário.
Um quarto dos entrevistados disse que tinha uma escova de dentes localizada dentro dessa distância.
Como um adulto saudável faz xixi até oito vezes por dia, e muitos dão “aquela chacoalhada” quando terminam de urinar, dá pra imaginar quanta urina invisível se acumula no banheiro no espaço de apenas 24 horas.
Agora imagine o estado do banheiro após 7 dias. Britânicos e americanos costumam limpar os banheiros uma vez por semana, 86% das pessoas pesquisadas no estudo confessaram que não limpam regularmente essas áreas não-sanitárias.
No entanto o tema é um tabu não só no Brasil. Em 2017 o jogador argentino Leonel Messi causou surpresa no mundo todo ao “assumir” que fazia xixi sentado. “É mais cômodo, você levanta pela manhã todo cansado, quase dormindo, abaixa as calças e pronto”, ele disse, rindo, em um programa de TV.
A notícia correu o mundo e virou até debate acadêmico. “É muito bom que cada vez mais homens vejam que o ato de ficar em pé para fazer xixi signifique hombridade é ridículo”, disse o antropólogo Fernando Villamil na época para o jornal El País.
Embora se saiba que os homens possam escolher entre urinar em pé ou sentados, que um deles diga que prefere fazê-lo sentado continua sendo um tabu em países como a o Brasil e a Espanha, enquanto na Alemanha ou na Suécia instituições públicas e partidos políticos defendem cada vez mais que os homens descarreguem seu jorro do mesmo modo que as mulheres, em prol da igualdade também nos banheiros e higiene pública.
Em qualquer cultura o manejo das secreções corporais sempre esteve rodeado de normas e rituais, opor isso as posturas na hora de urinar correspondem, sobretudo, a uma questão cultural. Segundo a antropóloga Mary Douglas, o corpo representa um microcosmos da sociedade, e por isso é tão importante vigiar o que entra e o que sai dele. Em nossa cultura, o ato de urinar é visto como uma questão higiênica e de gênero.
Para os navajos (indígenas norte-americanos) era também uma questão de idade; sem banheiros disponíveis, os homens e as mulheres jovens urinavam de modo diferente dos idoso, os homens de cócoras e as mulheres, de pé.
Para os judeus da idade antiga, era preciso urinar de pé e de costas para o templo, para evitar expor as partes pudicas ao sagrado. Para os zoroastrianos, cujo deus era representado pelo sol, a postura adequada era de cócoras, para não expor a matéria impura”, descreve a especialista.
Sim, você não precisa fazer xixi em pé para provar que é homem. E mulheres, dá, sim, para conversar sobre isso com filhos, parceiros, maridos. Por que não? Senta aí e relaxa, menino!