Em outubro tive a oportunidade de palestrar sobre masculinidades no Encontro A Sós do Rio de Janeiro (obrigado A Sós). Desde então, tenho conversado com algumas pessoas sobre a importância de passar adiante essas informações para que mais pessoas entendam sobre masculinidades e como isso afeta as nossas vidas. Então hoje, eu decidi trazer um pouco da minha palestra e para vocês!
Mas, antes de falar sobre masculinidades, é preciso entender que essa luta surgiu a partir das lutas feministas e que, falar de masculinidades é falar de feminismo. Vale também ressaltar que nesse movimento de mudança não existe anulação das falas, só existe uma união de forças em prol de uma sociedade melhor. Ou seja, os movimentos de feminismo e masculinidades estão juntos e shallow now!
Quando começamos a falar sobre masculinidades, é preciso evidenciar uma coisa: os homens estão no poder. Nós homens ocupamos a maioria das posições de poder, seja na política ou em grandes empresas os homens detém o poder. Mas esse poder não é para todos, pois quando analisamos o perfil deste homem, chegamos a um padrão onde a maioria deles são homens brancos, hétero sexuais, de alta classe social e com o ensino superior completo.
Porém, ao mesmo tempo que os homens ocupam o extremo do poder, eles também ocupam o extremo inferior. Nós homens lotamos os cemitérios e as prisões, nos suicidamos em taxas preocupantes e nossa expectativa de vida é menor do que a das mulheres. E quando falamos desse extremo inferior, é importante destacar que homens negros e não heterossexuais ocupam muito mais esta realidade. Eles ganham menos, estão ausentes da maioria dos espaços de poder e sofrem um maior preconceito profissional e social no cotidiano.
Eu como homem negro, ainda que de pele clara, aproveito para frisar alguns números alarmantes sobre os homens negros. Entre a idade de 10 a 29 anos, os negros possuem 45% mais chances de cometer suicídio quando comparado as taxas entre os brancos. Como se isso já não fosse ruim, entre 2006 e 2016 a taxa de suicídios entre a população negra subiu 23,1% enquanto que entre indivíduos não negros ela caiu 6,8%.
A verdade é que os homens no geral falam muito, mas nunca sobre o que realmente sentem. Os homens são criados no silêncio emocional, onde demonstrar qualquer sentimento é algo proibido e visto como fraqueza. Assim, nós homens trancamos nossos corações escondendo feridas profundas e vivemos dentro de uma caixa onde na infância aprendemos a não expressar nossas emoções, fragilidades, medos e até mesmo pedir ajuda dos outros. E quando estes meninos viram adultos, exigimos uma transformação em que eles sejam empáticos e sensíveis.
As dores dos homens são muitas, mas é importante deixar claro que falar das dores dos homens não é vitimiza-los. É necessário compreender as dores de vários grupos sempre com empatia, não é passar a mão na cabeça de quem praticar alguma atitude machista, falar nas dores é compreender o porque de algumas atitudes e a partir dai criticar este homem para a sua reflexão e aprimoramento pessoal.
Trazendo um pouco para minha área de sexualidade, as dores dos homens já começam na questão da sua sexualidade ser restritiva e obsessiva por performance. Criamos estes homens ensinando que eles devem ser fortes, rígidos, invencíveis e provedores mas, quando eles ainda tem medo das mulheres fortes e independentes.
O resultado disso é mostrado em números: 1 em cada 4 homens está viciado em pornografia, 1 em cada 4 homens afirma sentir-se solitário sempre, apenas 3 em cada 10 conversam sobre seus medos e 11 a 15 milhões enfrentam alguma disfunção erétil em algum nível.
Infelizmente a solução ainda não é simples para todos, mas muitos homens já entendem que é hora de mudar. É tempo de agir e se tornar melhor para a sociedade e principalmente para você! Existem vários movimentos em prol de uma masculinidade saudável, bora conversar?